Desde que a ciência descobriu que a dose de reforço da vacina contra a Covid-19 seria necessária, especialmente diante do surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2, muito tem se falado sobre o reforço heterólogo (quando se aplica uma vacina diferente do esquema inicial) e o homólogo (quando se aplica a mesma vacina).
Com o recente surto em Xangai, na China, seguido de um novo lockdown, levantou-se a hipótese de que a aplicação da mesma tecnologia nas três doses, a de vírus inativado, prejudicou a imunidade da população no país. No entanto, o real e principal motivo do aumento de casos na China é a baixa adesão à dose de reforço durante a circulação da ômicron, variante mais transmissível do SARS-CoV-2.
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De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), tanto os regimes de reforço homólogos quanto os heterólogos são imunologicamente efetivos. Os benefícios de um esquema heterólogo são válidos para quem tomou qualquer vacina e não excluem a eficácia do esquema homólogo.
“A questão principal de uma vacinação heteróloga é, na verdade, para evitar as reações adversas e a perda de eficácia relacionadas às novas plataformas vacinais, como RNA mensageiro e vetor viral”, explica o imunologista Gustavo Cabral, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).
Vacinação
No caso de vacinas de RNA mensageiro, a aplicação de três doses aumenta a reatogenicidade do imunizante, ou seja, a chance de causar efeitos adversos, como reações alérgicas. “Isso ocorre devido à cápsula protetora de gordura que envolve as moléculas de RNA”, afirma Gustavo. Já no caso de imunizantes de vetor viral, que carregam um fragmento do coronavírus, o problema é que o sistema imune reconhece o vetor por inteiro, não apenas o vírus. Com mais de duas doses aplicadas, a tendência é que o sistema imune impeça a entrada do vetor nas células, o que pode reduzir a eficácia da vacina.
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“A vacinação heteróloga é boa porque nós somamos o que tem de melhor em cada vacina. É importante destacar que a vacinação homóloga não é menos eficaz; ela funciona muito bem. Mas, se nós temos armas complementares, por que não utilizá-las, independente de qual foi o esquema inicial? Essa é a lógica”, diz o pesquisador. Ele acrescenta que a CoronaVac, por exemplo, que é feita com a tecnologia de vírus inativado, tem alta capacidade de gerar anticorpos neutralizantes específicos, mas uma terceira dose heteróloga poderia melhorar a resposta de células T. “Mesmo assim, por conter apenas o vírus inteiro, a CoronaVac na dose de reforço não causa nenhum problema de reatogenicidade”.
Dose de reforço no Brasil
No Brasil, com a queda natural da imunidade após seis meses nos primeiros indivíduos vacinados, que receberam a CoronaVac, criou-se uma ideia de que seria necessário aplicar um imunizante diferente na terceira dose para recuperar a proteção. A redução na imunidade, porém, é um fenômeno observado para todas as vacinas após seis meses da segunda dose. “Os primeiros grupos vacinados aqui no Brasil, como os idosos, foram imunizados com CoronaVac, então eles logicamente serão os primeiros a sofrer uma redução da proteção. Isso não significa que a vacina não é eficaz ou que a vacinação homóloga [com três doses de CoronaVac] não funciona”, esclarece Gustavo.
Estudos científicos já mostraram que a CoronaVac na terceira dose é efetiva contra as variantes de preocupação, como delta, gama e alfa, produzindo anticorpos inclusive contra a ômicron. Os artigos podem ser acessados no Dossiê CoronaVac, produzido pelo Instituto Butantan.
Infromações Portal Butantan