O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A data faz parte da campanha do Setembro Amarelo, mês dedicado a promoção mais enfática do debate e a conscientização da valorização da vida.
Quando o assunto é saúde mental, todo conhecimento é válido para desmistificar tabus e tornar a informação cada vez mais acessível para a população. Debater sobre a prevenção do suicídio é necessário para conscientizar que o suporte psicológico é importante.
Por isso, nesses casos, a escuta, tanto de amigos e familiares – a chamada “rede de apoio” – quanto profissional, é fundamental para evitar que casos mais extremos venham a acontecer. Segundo a psicóloga do Hospital Geral Dr. Waldemar de Alcântara, Renata Mesquita, “falar sobre suicídio não vai induzir pessoas a cometerem suicídio, mas vai permitir um espaço para que a pessoa se sinta à vontade para poder falar e compartilhar a sua angústia”.
De acordo com informações da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), existem – entre muitos outros – 10 principais fatores de risco relacionados a suicídio. São eles:
- Transtornos mentais;
- Tentativa prévia de suicídio;
- Ideação suicida;
- Fatores estressores crônicos e recentes;
- Organização de detalhes e despedidas;
- Meios acessíveis para suicidar-se;
- Impulsividade;
- Eventos adversos na infância e adolescência;
- Motivos aparentes ou ocultos;
- Presença de outras doenças.
Segundo Renata, “a pessoa que comete suicídio, geralmente, deu algum sinal antes de fazer isso. Mas, pela desinformação, as pessoas não percebem. Nem todos tem o conhecimento de que não é drama, não é uma forma de chamar atenção. Na verdade, é um pedido de socorro em uma forte crise emocional. Mudanças de comportamento, isolamento social e ausência de planos são sinais de alerta”.
Suporte
Demonstrar apoio e interesse é o primeiro passo para ajudar quem encontra-se em uma situação de vulnerabilidade psicológica. Esse suporte é válido principalmente em situações que podem agravar ainda mais esse quadro, como lutos, perdas ou fatores externos, como a pandemia de Covid-19.
Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Psiquiatria com médicos brasileiros identificou que 89,2% dos profissionais afirmaram que quadros psiquiátricos foram agravados durante esse período.
“Prestar acolhimento ao sofrimento da pessoa, se mostrar empático com o sofrimento dela, dedicar seu tempo a uma escuta ativa, sem intervenções. É muito difícil para a pessoa falar sobre isso. Se ela escolhe alguém para compartilhar, já é um grande passo para que aquela pessoa que está ouvindo seja uma forma de mobilizá-la para procurar ajuda profissional”, explica.
O acompanhamento psicológico é um apoio fundamental desde a infância, fase da vida em que, muitas vezes, ocorrem fatos os quais podem influenciar no agravamento de um transtorno mental. Os sinais de alerta devem ser observados desde os primeiros anos de vida.
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“Em casos de suicídio da família, de um luto complicado, quando ela tem perdas e não consegue lidar com aquele luto e diz que ‘quer ir pro céu com o vovô, a vovó ou com o cachorrinho’, por sofrer bullying na escola ou por abuso sexual. Quando a criança muda de comportamento já é um alerta importante de que está precisando de um atendimento especializado”, afirma a psicóloga.
Jovens
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos.
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“A modernização tem trazido muita velocidade nas aquisições. Cada vez você tem que se enquadrar mais nos padrões impostos pela mídia e pelas redes sociais. O jovem fica nesse processo muito intolerante à frustração. Ele não se fortalece emocionalmente para passar pelos estágios normais da vida. Essa fragilidade também faz com que se agravem os sintomas de um transtorno que ele possa ter”, observa a psicóloga.
Como ajudar
O incentivo à realização de acompanhamento psicológico é um fator muito importante de prevenção ao suicídio, mesmo que, muitas vezes, haja uma resistência do paciente para essa procura.
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“É muito necessária a paciência. É na construção do vínculo que a pessoa vai desfazendo as resistências para ouvir melhor o seu oferecimento de ajuda. Quando ela começa a perceber que está numa relação de confiança, ela pode estar mais aberta a receber as indicações para um atendimento especializado”, esclarece Renata.
Além disso, em momentos de crise ou de emergência, a profissional aconselha não deixar a pessoa sozinha até que uma ajuda seja acionada. Ela explica que, nesses casos, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e o Corpo de Bombeiros possuem profissionais capacitados para lidar com esse tipo de situação.
“Em casos de emergência, é importante que a pessoa vá para uma emergência psiquiátrica ou para um hospital geral que tenha atendimento psiquiátrico para que ela tenha uma intervenção naquele momento”, alerta.
Atendimentos
- Devido à pandemia, a Universidade Federal do Ceará está oferecendo plantão psicológico gratuito. Basta realizar a inscrição pelo http://linktr.ee/lapfes;
- Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde);
- Centro de Valorização da Vida, discando 188 ou acessando o chat 24h pelo link https://www.cvv.org.br/e-mail;
- Instituto Bia Dote – https://institutobiadote.org.br;
- Clínica Escola de Psicologia da Unifor – Nami, pelo telefone 3477-3611;
- Clínica Escola Maurício de Nassau, pelo telefone 3101-7720.