O tempo considerado ideal para um bebê nascer é após, pelo menos, 37 semanas de gestação. Mas nem sempre os pequenos conseguem chegar nessa marca, nascem pequenos e com necessidades específicas. Por isso, precisam passar um período (as vezes longo) no hospital, recebendo os cuidados e atenção dos profissionais. O contato com a família nos primeiros dias de vida fica limitado. Como o do Salomão, que nasceu após 30 semanas de gestação, pesando 800 gramas e muito fragilizado. Ao completar dois meses, e ainda internado na UTI da Maternidade Escola Assis Chateaubriand, ele recebeu, pela primeira vez, a visita do irmão, Kauê Lucas, de 11 anos. O encontro foi possibilitado pelo projeto “Visita dos irmãos”, implementado recentemente na maternidade.
Iniciativa das psicólogas e enfermeiras da Neonatologia, o projeto “Visita dos Irmãos” tem um roteiro guiado para preparar crianças e apresentá-las seus irmãozinhos recém-nascidos, que estão internados na Unidade de Terapia Intensiva. A cada sexta-feira, três famílias participam desse encontro na Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Um momento emocionante, que permite a criação de laços afetivos e a formação de uma rede de cuidados que serão continuados em casa.
O projeto tem ainda como objetivo, possibilitar a participação do irmão no processo de internação, oferecendo um espaço de acolhimento à ansiedade e outros sentimentos provocados pela situação. Informar sobre o quadro clínico do bebê e suas necessidades de cuidados especiais, ajudando na compreensão do que está acontecendo. Promovendo a continuidade dos diferentes papéis e funções no sistema familiar e criar uma rede de apoio que ofereça aos irmãos um suporte para a continuidade de suas rotinas diárias, já que a mãe em diversos casos, acaba precisando se ausentar das atividades em casa.
Quando os irmãos chegam, participam de um pequeno grupo de preparação. As enfermeiras prepararam um bonequinho que simula o bebê com todos os dispositivos que possivelmente seu irmão esteja usando na UTI, como sondas, acessos venosos e curativos. Para que o irmão entenda como a criança está lá dentro. Então os profissionais observam as expectativas da criança, pra saber se ele tem alguma fantasia. Como, por exemplo, se ele imagina um bebê muito diferente da realidade. E assim as psicólogas vão trabalhando essas expectativas.
Em seguida, é aplicado um questionário com as mães pra saber como está a saúde dessa criança, e verificar se ela tem condições de entrar no ambiente da neonatologia. As três crianças vão, então, desenhar seus irmãozinhos. Esse desenho dá às psicólogas condições pra avaliação antes de entrar no berçário. A visita é guiada. O irmão entra acompanhado e todo paramentado com os equipamentos de proteção individual. Aprendem a higienizar as mãos, e o que podem ou não fazer lá dentro. Em seguida, são orientados a conversar com o bebê. A última fase da visita é uma conversa com os profissionais, onde eles contam como se sentem depois da experiência.
Na avaliação da enfermeira Izélia Gomes, a primeira turma do projeto foi um sucesso. “Superou todas as nossas expectativas, tivemos uma entrega completa da equipe. As crianças estavam bastante ansiosas pra conhecer os irmãos. Todos colaboraram, entendendo a necessidade daquele momento”, contou. Izélia é uma das profissionais que acalentavam esse sonho há vários anos e não conteve as lágrimas ao acompanhar a emoção dos familiares dos bebês reunidos.