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Escrita pode ser usada como ferramenta terapêutica

Ato de escrever favorece a criatividade e é um aliado nos tratamentos de ansiedade

4 de junho de 2020
Dentre os benefícios da escrita terapêutica, está o autoconhecimento. Foto: Fernanda Carvalho | Bora Cronicar

Dentre os benefícios da escrita terapêutica, está o autoconhecimento. Foto: Fernanda Carvalho | Bora Cronicar

Por Fernanda Guimarães

A escrita é uma forma de expressão dos sentimentos e também pode virar uma aliada em tratamentos psicológicos, como em casos de depressão, ansiedade e processos de luto. A escrita terapêutica, por exemplo, é uma técnica que tem como objetivo fazer com que o indivíduo organize seus pensamentos e reconheça suas necessidades.

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De acordo com a psicóloga Fernanda Carvalho, “a escrita é uma ferramenta muito democrática. Ela é muito reveladora. Mesmo quando é feita sem o intuito de ser terapêutica, ela continua sendo um mergulho no ser. Ela vai tocar em símbolos, signos e sentidos daquele indivíduo”.

Segundo a profissional, um dos fatores que diferem a escrita terapêutica da prática convencional é que esta não leva em consideração gramática, pontuação e ortografia; nesse caso, o foco é exclusivo na descrição dos sentimentos do paciente. “É um momento seu. Ela se direciona mais a essa sua liberdade de dizer, falar e, às vezes, até de narrar”, completa.

A jornalista Mariah Costa tem contato e apreço pela escrita desde o início da adolescência. Em uma situação de bloqueio criativo, ela encontrou, em um tratamento psicológico aliado à experiência em uma oficina de escrita terapêutica, uma forma de superar essa condição.

“Na terapia, eu percebi que uma coisa que me travava muito para a escrita e que colaborava para o meu bloqueio criativo era o fato de eu estar colocando emoções, energia nos lugares errados. A oficina de escrita terapêutica me ajudou muito. A escrita, assim como a leitura, é algo muito individual. A gente precisa ter esse exercício de escrever sobre o que a gente pensa, sobre o que sente, sobre as nossas percepções do mundo. Eu comecei a aplicar isso no meu dia a dia também”, relata.

Benefícios

Para a psicóloga, em situações como a de Mariah, a escrita terapêutica surge como uma forma de autoconhecimento. “A gente não tem esse ensinamento de escutar a si, lidar com emoções, perceber necessidades e perceber a si mesmo. É uma falha na nossa educação. Não somos educados para inteligência emocional. Isso acaba sendo negativo porque, quando o ser é negligenciado, isso acaba surgindo como adoecimentos do corpo, adoecimentos psíquicos e acabam entravando aquele ser de uma vez até que ele perceba o que está acontecendo ali. A escrita serve pra isso. É como se fosse um antídoto”, explica a profissional.

Como jornalista e praticante da escrita terapêutica, Mariah reforça a importância e os benefícios que esse hábito traz no dia a dia. “Eu apoio totalmente o incentivo da escrita para crianças e adolescentes. Eu acredito muito no potencial das escolas e das famílias incentivarem esses jovens a se expressarem por meio da escrita, não como algo rebuscado, mas como uma coisa democrática e acessível, pelo poder que ela tem de expressão. Colocar as coisas no papel torna tudo mais real”, afirma.

Como realizar a escrita terapêutica

Segundo Fernanda, a escrita terapêutica pode ser feita tanto no consultório quanto em casa. “O bacana de ser acompanhado por um profissional da área é justamente porque ele te vê de fora pra dentro e consegue enxergar aspectos que você tá naquele momento revendo, percebe isso e provavelmente vai te direcionar. Por ele não estar dentro do seu ser, ele pode enxergar aspectos no seu texto que talvez você não perceberia sozinho”, explica.

Se o paciente optar por praticar em casa, a profissional recomenda as seguintes orientações:

  • Escreva em um ambiente tranquilo, em que você não seja interrompido;
  • Vá no seu ritmo. Não se force a escrever um determinado número de parágrafos ou páginas;
  • Tente fazer pequenos rituais, como ficar sempre no mesmo local, sentar na mesma cadeira, caminhar minutos antes de escrever. Essas devem ser atividades tranquilizadoras, de preferência, como se você estivesse preparando seu cérebro para aquele momento.

Oficinas de escrita terapêutica: como funcionam?

Algumas oficinas de escrita terapêutica permitem vivências visando ao desenvolvimento criativo. É um encontro com uma série de atividades envolvendo a escrita e criatividade.

“Na verdade, a criatividade é uma força que destrava situações da vida, que destrava caminhos do ser”, explica. De acordo com a psicóloga Fernanda, o grupo é indicado tanto para pessoas que possuem alguma questão pessoal, quanto para pessoas que querem apenas experimentar novas vivências.

No grupo terapêutico de mulheres, são reunidas pessoas que estão vivenciando alguma situação específica e, na ocasião, é utilizada a escrita como uma força para que as pessoas consigam encontrar em si, formas de lidar com essas situações e transtornos.

A psicóloga relata que, em situações de depressão, por exemplo, a escrita é benéfica, pois o depressivo encontra-se numa situação em que não enxerga possibilidades dentro da sua vivência. “Através de atividades que são propostas, ele é capaz de desenvolver outras histórias, de enxergar outras possibilidades. Quando ele enxerga isso, isso significa que ele está desenvolvendo um novo olhar”, explica.

Em casos de luto, Fernanda explica que ele é visto como uma condição que traz tarefas para a pessoa que sofreu uma perda, como aceitar a realidade, processar a dor e encontrar uma conexão com a pessoa falecida, entre outras tarefas.

“Durante a escrita, ela tem chance de ter controle sobre essa história e ir narrando-a. Ela tem a oportunidade de pausar e ver de outros ângulos. Já aconteceu um caso que uma pessoa tava com uma dificuldade semelhante e ela escreveu o texto pelo olhar do morto, como se ele estivesse contando a história. Ao final do grupo, ela relatou a importância daquele momento”, conta a profissional.

Dica da psicóloga: Como a escrita terapêutica pode ajudar em tempos de pandemia?

É um momento em que muitas questões vão se intensificar por conta do isolamento, por conta das incertezas que o futuro traz, por questões financeiras… A escrita é fundamental como uma ferramenta de autocuidado, que tem a possibilidade de contribuir para o bem estar mental e ser estabilizadora de determinadas coisas ligadas à adaptação da pessoa a essa nova realidade.

Fernanda Carvalho, psicóloga, escritora e fundadora do projeto Bora Cronicar.




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