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[ARTIGO] Vivemos uma cultura do TDAH?

Por Érica Machado – Psicóloga e supervisora clínica de orientação junguiana

13 de julho de 2024

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, condição neurológica que afeta a capacidade de concentração, controle de impulsos e regulação do comportamento vem apresentando aumento no número de diagnósticos e prescrições medicamentosas, especialmente entre crianças e adolescentes. Muitos dizem: “finalmente descobri meu problema!”. Será?

A cultura da exposição e da alta performance, o excesso e velocidade de informações, a alta exposição às telas, para citar algumas das características do sistema de vida que temos vivido, têm contribuído mais para o adoecimento do que para a saúde mental pelos riscos potenciais que apresentam, como a elevação dos níveis de estresse e ansiedade, impactos negativos à autoestima, prejuízo do sono etc. Tais impactos podem produzir sintomas que se enquadram no TDAH. Mas nem sempre a base da sintomatologia é neurológica, podendo advir de fatores culturais e comportamentais, afinal, que cérebro consegue manter o foco em meio à sobrecarga? Falhar, nesse caso, não seria o esperado? Se considerarmos anormal ou neurologicamente atípico, que tipo de normalidade, então, estamos buscando e como?

A excessiva patologização de comportamentos – coerentes com o modelo de vida atual – pode estar por trás da epidemia de diagnósticos e prescrições para a condição, representando risco à saúde. Medicamentos como a Ritalina, exemplo de tarja preta que trata o TDAH, possuem potencial de dependência e riscos no longo prazo, incluindo cardiovasculares. Por isso, sua prescrição e uso devem ocorrer com rigor, e não de forma indiscriminada. É também fundamental que os critérios diagnósticos sejam mais precisos e considerem o indivíduo como um ser biopsicossocial.

Muitos têm o transtorno e precisam da medicação, mas muitos outros podem adotar estratégias que promovam a saúde global, como cuidar da mente, dialogar com o estilo de vida, fazer a higiene do sono, praticar exercícios físicos etc., antes de cair nos excessos da medicalização. Numa era de padronização, é urgente devolver o indivíduo ao centro, capaz de protagonizar mudanças, se cuidar de forma crítica e responsável e, “de quebra”, celebrar as diferenças!

 




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