Banner SESI 2024

Setembro Amarelo: precisamos falar sobre suicídio

O tema, ainda um tabu, é caracterizado pelo Ministério da Saúde como um problema de saúde pública e está em destaque neste mês com a campanha “Setembro Amarelo”, sobre prevenção ao suicídio

1 de setembro de 2019
Setembro Amarelo: campanha de prevenção ao suicídio alerta para como e quando buscar ajuda em situações difíceis. (Foto: Banco de Dados)

Setembro Amarelo: campanha de prevenção ao suicídio alerta para como e quando buscar ajuda em situações difíceis. (Foto: Banco de Dados)

Nove em cada dez mortes por suicídio no Brasil poderiam ser evitadas. Como? Informando, alertando, cuidando e prestando atenção em quem nos pede ajuda. Tirar a própria vida é um ato por vezes impulsivo, em um momento de crise, e que jamais deveria ser cogitado. Prevenir o suicídio é, além de perceber o outro, estar consciente de si verdadeiramente.

A prevenção contra o suicídio tem um forte aliado: o amparo, que pode ser familiar, de amigos ou até mesmo de projetos, causas e sonhos.

> Relacionamento abusivo: identifique e saia dessa situação
> Chances de infarto: quase 70% dos brasileiros não conhecem a própria taxa de colesterol
> Projeto Remar oferece atividades aquáticas para pessoas com deficiência
> A importância do acompanhamento psicológico para emagrecer com saúde

 

Lucinaura Diógenes e a filha, Bia Dote. (Foto: Arquivo Pessoal)

Lucinaura Diógenes e a filha, Bia Dote. (Foto: Arquivo Pessoal)

A capacidade de amar e ver sentido nas coisas serve de força em diversos quadros. Para Lucinaura Diógenes, é fonte de esperanças. Após a partida da filha Bia Dote em 2008, na época com 13 anos, a geóloga e psicóloga em formação criou o Instituto Bia Dote (IBD) em 2013, como forma de ressignificar a dor da família.

Lucinaura Diógenes criou o Instituto em 2013 como forma de ressignificar a dor pela partida da filha, Bia Dote, em amor pela vida. (Foto: Iury Figueiredo)

Lucinaura Diógenes criou o Instituto em 2013 como forma de ressignificar a dor pela partida da filha, Bia Dote, em amor pela vida. (Foto: Iury Figueiredo)

“Quando Bia faleceu, foi um surpresa enorme. Ela não apresentava sinais, não identificamos nenhuma forma de transtorno, situação ou fatores de risco que pudesse levá-la a não querer mais viver. Nunca havíamos passado por uma situação de luto tão próxima. Ficamos perdidos procurando respostas, sem entender também a reação das pessoas. Esperavam que fossemos esconder, como se fosse uma morte não autorizada, um pecado, um segredo. Nos julgavam e nos cobravam. Eu não achava justo com Bia fazer isso, então nunca aceitamos”, desabafa Lucinaura.

Instituto Bia Dote: movidos pelo amor
Instituto Bia Dote: criado em 2013, o espaço oferece atendimento psicológico gratuito, acolhimento, grupo de conversa, entre outros. (Foto: Iury Figueiredo)

Instituto Bia Dote: criado em 2013, o espaço oferece atendimento psicológico gratuito, acolhimento, grupo de conversa, entre outros. (Foto: Iury Figueiredo)

A partir dos sentimentos vividos com a partida de Bia, Lucinaura movimentou familiares e amigos para fundar o IBD. Tudo começou com a participação dela, do marido Tadeu Dote e da filha mais velha Alice Dote em palestras e grupos de famílias que lidavam com o luto. “Ainda em 2009 e 2010, procuramos por quem falasse sobre o tema, e havia pouquíssima coisa. Nem campanha Setembro Amarelo existia. Tivemos a ideia de preparar nós mesmos palestras motivacionais, sobre promoção da vida, e então pensei que poderíamos pegar esse trabalho e, de fato profissionalizar. Criar uma instituição, com obrigação constante. Honestamente, nunca havia pensando em sair da minha área (geologia) para trabalhar com outra coisa, mas aqui estou”, conta Lucinaura.

Prevenir o suicídio é promover a vida

A intenção de ajudar a fazer o tema do suicídio, ainda um tabu, emergir como discussão necessária à sociedade é o lema do IBD. Hoje, o instituto serve como um espaço para atendimento psicológico, acolhimento, ajuda e partilha de histórias, além de contribuir na mudança da realidade ainda delicada sobre a abordagem do tema suicídio.

O IBD funciona como espaço de acolhimento, ajuda e promoção da vida. (Foto: Iury Figueiredo)

O IBD funciona como espaço de acolhimento, ajuda e promoção da vida. Nas fotos, Bia Dote. (Foto: Iury Figueiredo)

O Instituto Bia Dote conta com 13 psicólogos, atendendo gratuitamente mais de 100 horários por semana, tudo de forma gratuita e simplificada. “Quando começamos a oferecer o atendimento, prezamos por tornar o IBD um espaço de escuta e sem julgamentos. Então, quem quiser, pode ligar para a gente e marcar um horário de acordo com sua disponibilidade e a dos nossos profissionais, sem ser necessário encaminhamento médico. Tomamos essa decisão justamente para facilitar a busca por ajuda, pois percebemos que era um fator que dificultava a procura”, explica Lucinaura.

Para a psicóloga Débora Nobre, que atua no Instituto desde 2017, prevenir o suicídio é promover a vida. “A forma de viver a dor para cada pessoa é diferente. Existem níveis de sofrimento. A maioria de nós, quando saudáveis, conseguimos lidar com a dor. Uma cervejinha no fim de semana e está tudo bem. Outras pessoas não encontram saída, querem se matar e precisam de ajuda. Aqui atuo com a terapia pela fala, combinadas à técnica de respiração, planejamento de comportamento; com foco no encontro de algo, do sentido. A depender do caso, vamos escolhendo os recursos que serão utilizados para ajudar”, afirma a psicóloga.

Além do atendimento, o IBD oferece outros diversos serviços e projetos que auxiliam na prevenção do suicídio e na promoção da vida. Entre eles estão o Grupo de Apoio às Famílias Sobreviventes do Suicídio, o Instituto Bia Dote nas Escolas, Abraço de Bia e a escuta terapêutica Terapia na Cidade.

Confira todos os serviços da instituição no site: https://institutobiadote.org.br/

Dados alarmantes

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta o suicídio como a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. O período é marcado pelo paradoxo de ser jovem demais e ter o peso das primeiras grandes decisões. Qual profissão escolher, qual carreira seguir, tempo limite para conquistar a independência financeira. Nesse momento tão conturbado de nossas vidas, podem surgir diversos questionamentos, desde “para onde ir?” até “qual o sentido da vida?”.

Este ano, o Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), promoveu uma série de vídeos para falar sobre suicídio e cuidados com a saúde mental, com foco em crianças e adolescentes. O intuito é abordar temas que podem ser fator desencadeante de comportamentos suicidas, além de quebrar barreiras e falar abertamente sobre o assunto, de forma cuidadosa e informativa. O material está disponível gratuitamente no canal do CVV no Youtube.

Série CVV/Unicef:

 

Além dos jovens, o CVV também promoveu vídeos para falar sobre prevenção do suicídio com pais e educadores. A entidade disponibiliza esses e outros materiais sobre o assunto no site oficial. Confira: https://www.cvv.org.br/conheca-mais/.

Sinais de alerta

Situações de enfrentamento de conflitos, desastres, violência, abusos ou perdas e um senso de isolamento estão fortemente associados com o comportamento suicida, aponta a OMS.

“Pensar sobre a morte, até certo ponto, é natural ao ser humano. É até saudável pensarmos sobre essa questão da vida. No entanto, o alerta é quando a morte aparece como uma solução para os problemas do indivíduo. Geralmente, esse sentimento está relacionado à perda de uma ‘âncora’, ou a um fracasso”, explica a psicóloga Rebeca Morais.

Prevenção do suicídio: Ministério da Saúde divulga possíveis frases de alerta. (Foto: Ministério da Saúde)

Prevenção do suicídio: Ministério da Saúde divulga possíveis frases de alerta. (Foto: Ministério da Saúde)

As taxas de suicídio também são elevadas em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como refugiados e migrantes; indígenas; lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI); e pessoas privadas de liberdade. Ainda de acordo com a OMS, o fator de risco mais relevante para o suicídio é a tentativa anterior.

Segundo Rebeca, o principal sinal que deve alertar sobre um comportamento suicida é o negativismo sobre a vida. “Em geral, pessoas que têm uma ideação suicida ou já tentaram, têm uma visão muito negativa, constante, sobre o mundo. É muito insatisfeita e triste com o trabalho, com os relacionamentos e consigo, não consegue ver sentido nas coisas que faz, se isola e está sempre pra baixo. Nem sempre ela vai falar claramente que quer morrer, mas pode dar indícios de que está perdida, sentindo-se sem saída”, elenca a psicóloga.

Setembro Amarelo

A campanha mundial de prevenção e combate ao suicídio, intitulada Setembro Amarelo, propõe diversas ações que estimulam a conscientização acerca do assunto e simbolizam a valorização da vida. No Brasil, o movimento ganhou vida em 2015 a partir de um projeto entre Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em decorrência do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, marcado no dia 10 de setembro.

O objetivo do Setembro Amarelo é reforçar a importância de discutir e prevenir o suicídio enquanto um problema de saúde pública. Dados da OMS apontam que 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano em todo o mundo. O Brasil aparece como o oitavo colocado no ranking da OMS, com 31.507 casos de suicídio registrados entre 2012 e 2014, com uma média de 32 casos por dia.

Como ajudar

“Sozinho a pessoa não consegue sair da situação. O primeiro passo precisa ser aceitar, entender, e buscar ajuda. O psicoterapia entra e ajuda a buscar estratégias para sair desses pensamentos alterados. Os profissionais dão assistência no momento que estão em consulta. No entanto, os familiares e amigos próximos também têm papel essencial nesse momento”, confirma a psicóloga Rebeca.

Um simples gesto de cuidado faz a diferença. Escute, abrace e esteja sempre atento aos sinais de quem pode estar em uma situação difícil. Também é importante incentivar a busca por ajuda profissional em todos os casos.

As orientações do Ministério da Saúde são:

  • Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio.
  • Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento.
  • Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa
  • Se a pessoa com quem você está preocupado(a) vive com você, assegure-se de que ele(a) não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa.
  • Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo.
Setembro Amarelo: Principais passos para ajudar uma pessoa sob risco de suicídio. (Foto: Ministério da Saúde)

Setembro Amarelo: Principais passos para ajudar uma pessoa sob risco de suicídio. (Foto: Ministério da Saúde)

Onde buscar ajuda

O CVV realiza um trabalho de apoio emocional, atendendo de forma voluntária e totalmente gratuita as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. A principal via de é contato é o telefone, no número 188, além de email e chat 24 horas todos os dias pelo site: https://www.cvv.org.br/.

Em Fortaleza, diversas instituições promovem a escuta terapêutica, o atendimento psicológico gratuito ou a preço popular. Confira:

CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).

UPA 24H, SAMU 192, Proto Socorro; Hospitais

Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita)

CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS)

Endereço: R. Pinto Madeira, 1550 – Aldeota

Telefone: (85) 3105-2632

Instituto Bia Dote

Endereço: Torre Quixadá – Av. Barão de Studart, 2360 – sala 1106 – Aldeota

Telefone: (85) 3264-2992

Clínica Escola de Psicologia da UFC

Endereço: Rua Waldery Uchôa, 3, no bairro Benfica

Telefone: (85) 3366-7690

Clínica Escola de Psicologia da Unifor – Nami

Endereço: Av. Dr. Valmir Ponte

Telefone: 3477-3611

Clínica Escola Maurício de Nassau

Telefone: 3101-7720

Clínica Escola Fanor

Endereço: Av. Santos Dumont, 7800

Telefone: 3052-4865

Clínica Escola de Psicologia do Centro Universitário Estácio do Ceará

Telefone 3271-1992

Clínica Escola da Uece

Endereço : Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus Itapery

Telefone: 3101-9981

Clínica Arcádia

Endereço: Rua Martinho Rodrigues, 191, bairro de Fátima

Telefone: 30345508

Instituto Raízes

Endereço: Rua Adolfo Moreira de carvalho, 86, Edson Queiroz.

Telefone: 34592477

Instituto Sherpa

Endereços: Av. Viena Weyne, 1167 – Lago Jacarey; Av. Antônio Sales, 1885, sala 203, Joaquim Távora.

Telefone: 3271-0564

ATENÇÃO: Sinais como mudanças repentinas de humor, frases inesperadas de alerta pedindo socorro ou comportamentos depressivos podem indicar a necessidade de ajuda. Ao apresentar qualquer um desses sintomas ou sentimentos relacionados, o indicado é procurar ajuda profissional com urgência.




QUEM LEU ISSO TAMBÉM LEU:







COMENTE: