Um novo alerta acende para o futuro da saúde infantil no Brasil. Caso as tendências atuais se mantenham, o número de crianças e adolescentes com obesidade poderá quase dobrar até 2060, segundo projeções do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Os dados indicam que o total de meninos obesos, atualmente estimado em 4,7 milhões, pode chegar a 5,9 milhões nas próximas décadas. Entre as meninas, o número deve subir de 2,8 milhões para 3,8 milhões no mesmo período.
De acordo com o levantamento, 14,3% das crianças entre 5 e 9 anos e 12,6% dos adolescentes de 10 a 19 anos já vivem com obesidade. O cenário preocupa profissionais de saúde, que vêem no crescimento do excesso de peso uma ameaça que vai muito além da estética.
“A obesidade infantojuvenil é um dos maiores desafios de saúde pública do século. Estamos diante de uma geração que pode viver menos e pior do que a anterior, se nada for feito agora”, alerta o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) – Capítulo Ceará, Dr. Paulo Campelo.
Segundo o especialista, a combinação de má alimentação, sedentarismo e fácil acesso a alimentos ultraprocessados cria um ambiente “obesogênico” desde cedo. “As crianças de hoje são expostas a uma oferta excessiva de calorias e a um estilo de vida cada vez mais parado. Escola, família e políticas públicas precisam agir em conjunto para mudar esse quadro”, reforça o médico
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Um problema de saúde e economia
A obesidade infantojuvenil vem sendo reconhecida como uma epidemia global, com impactos físicos, emocionais e econômicos. Além de aumentar o risco de doenças como diabetes tipo 2, hipertensão e distúrbios hormonais, o excesso de peso também está associado a ansiedade, depressão e bullying escolar.
Estudos internacionais apontam que os custos com o tratamento de doenças relacionadas à obesidade devem consumir uma parcela cada vez maior dos orçamentos públicos de saúde. “Investir na prevenção é, ao mesmo tempo, uma questão de saúde e de sustentabilidade econômica”, avalia Dr. Paulo Campelo.
O cirurgião defende ações permanentes de educação alimentar nas escolas, maior regulação da publicidade infantil e ampliação de espaços públicos para a prática de atividades físicas. “Se não houver uma mudança cultural, continuaremos enxugando gelo”, afirma.
Com a chegada das festas de fim de ano, o alerta se estende também às famílias. “Pequenas atitudes cotidianas, como reduzir o consumo de refrigerantes e incentivar brincadeiras ao ar livre, já fazem diferença”, finaliza o especialista.


