No Brasil, cerca de 920 mil brasileiros vivem com o vírus da imunodeficiência humana, mais conhecido pela sigla HIV. De acordo com o Ministério da Saúde, deste total, 89% foram diagnosticados, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% das pessoas que fazem o tratamento já não transmitem o HIV, por terem atingido a carga viral indetectável. O médico infectologista e docente do Idomed, Íris Ricardo Rossin, explica que ser portador do HIV não significa que a pessoa tenha AIDS.
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“A síndrome representa o estágio extremo da imunodeficiência provocada pelo vírus e só aparece em pessoas infectadas pelo HIV que não foram tratadas adequadamente. O vírus pode ser transmitido por uma relação sexual desprotegida, pelo contato com sangue contaminado, devido à transfusão ou ao compartilhamento de seringas, por exemplo, e da mãe para o bebê durante a gestação, parto ou aleitamento”, explica.
Preconceito
Desde 1988, após escolha da Organização Mundial da Saúde, o dia 1º de dezembro é considerado o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Com o intuito de reduzir o preconceito, a data representa a mobilização de gerações de pacientes e profissionais de saúde para a conscientização sobre a doença e seus métodos de prevenção e tratamento. “Infelizmente, o preconceito ainda está presente, embora tenha diminuído nas últimas décadas. Pessoas infectadas pelo HIV podem demorar a procurar o serviço de saúde por medo de discriminação e isso pode levar a diagnósticos tardios que, sem tratamento adequado, podem se manifestar em estágios avançados da AIDS, com risco de morte e sequelas graves”, afirma o médico infectologista.
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O profissional explica que a AIDS é a sigla formada a partir do inglês “Acquired ImmunoDeficiency Syndrome” e se refere a uma síndrome multissistêmica adquirida (não congênita) causada pelo vírus HIV. Esse vírus ataca o sistema imunológico do infectado e resulta em um estado no qual ocorre perda da capacidade defensiva imune do organismo, ocasionando o surgimento frequente de doenças. O que leva a quadros infecciosos muito graves com risco de morte.
Diagnóstico
“O diagnóstico da AIDS se faz quando um indivíduo tem o teste anti-HIV positivo em uma amostra de sangue e apresenta sinais e sintomas de imunossupressão, com infecções graves e, na maioria das vezes, com manifestações não comuns. Podem ocorrer pneumonias por fungos como a pneumocistose, lesões cerebrais por toxoplasmose e até mesmo meningite por tuberculose”, completa o especialista Íris Ricardo Rossin.
As situações de imunodeficiência provocadas pela AIDS podem levar a sequelas definitivas como lesões neurológicas e pulmonares, além de complicações muito graves com risco de morte como insuficiência respiratória, crises convulsivas ou arritmias que podem provocar parada cardíaca.
Tratamento
O tratamento é feito com medicamentos antirretrovirais, como o AZT, Tenofovir, lamivudina e Dolutegravir, por exemplo. Esses medicamentos alteram etapas do ciclo de vida do HIV e provocam a morte do vírus, que se encontra replicando no sangue e demais tecidos. No Brasil estão disponíveis, de forma gratuita pelo SUS, vários medicamentos antirretrovirais e o médico infectologista determina o tratamento adequado para cada paciente conforme as características individuais.
Ainda, indivíduos que passaram por alguma situação de risco de contaminação podem procurar atendimento médico e serem orientados a usar medicações profiláticas contra a transmissão do HIV, seja em situações de exposição imediata (profilaxia pós-exposição – PEP) ou com comportamentos de risco aumentado para a transmissão (profilaxia pré-exposição – PrEP). O médico com treinamento específico é quem determina a abordagem mais adequada. No Brasil, estes atendimentos podem ser feitos tanto na rede de referência do SUS quanto em consultórios privados.
“O HIV é o causador da AIDS e se conseguirmos evitar a transmissão do vírus, não ocorrerá a doença. As medidas de prevenção para evitar a transmissão do vírus envolvem um conjunto de abordagens, desde questões relativas ao comportamento e educação sexual, como o uso de métodos preservativos de barreira (ex. Camisinha ou condom), até testes no pré-natal e em campanhas de testagem. Além do tratamento precoce dos indivíduos contaminados pelo vírus”, avalia Íris.
Apoio e acompanhamento psicológico
Apesar dos tratamentos e conhecimentos sobre o HIV terem evoluído significativamente nos últimos anos, a imagem que muitos ainda carregam é a do vírus relacionado à promiscuidade, ao castigo e à debilidade física. Há muito que ser feito para a desconstrução da visão social sobre alguém soropositivo. Mesmo que existam recursos para garantir uma vida segura e saudável para o paciente e para aqueles que venham a se relacionar com o mesmo, a falta de informação costuma atrapalhar os relacionamentos interpessoais.
“Não é necessário parar uma vida afetiva por conta do HIV e menos necessário ainda, excluir uma pessoa que se descobre soropositivo”, afirma a psicóloga e docente do curso de Psicologia da Wyden, Profa. Dra. Vivian de Jesus Correia e Silva. A profissional explica que o acompanhamento psicológico é essencial para a pessoa diagnosticada com o HIV, colaborando no enfrentamento dos estigmas sociais e até na dissolução do auto preconceito, bastante presente em alguns casos.
“A ajuda, em primeiro lugar, é com a autoaceitação, que implica, necessariamente, no modo de recepção do próprio diagnóstico. Em segundo lugar, é necessário apoio para lidar com a manutenção do tratamento medicamentoso, pois sabemos que os remédios podem trazer efeitos colaterais, principalmente no início e isso pode desencorajar o paciente a manter o tratamento, fundamental para sua saúde. Por fim, em terceiro lugar, ninguém precisa comprometer qualidade de vida passando sozinho por algo tão complexo”, declara a doutora Vivian.